segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Temor faz parte da vida cristã

Frequentemente é dito que o temor não tem lugar na vida do Cristão porque: "No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor." (1 João 4:18).
Mas no Novo Testamento há várias ordens para temer; por exemplo, Romanos 11:20: "pela sua incredulidade [os Judeus] foram quebrados, e tu estás em pé pela . Então não te ensoberbeças, mas teme." Semelhantemente, Hebreus 3:12 alerta contra a incredulidade (apesar de que a palavra "temer" não é usada): "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo". (Outros textos aconselhando a temer: 1 Pedro 1:17; 2:17; Filipenses 2:12-13; Lucas 12:5; Isaías 66:2; Atos 9:31; 2 Coríntios 5:11; 7:1 etc).

Juntando as Peças

Nós não devemos achar que os escritores do Novo Testamentos estão tomando lados, uns em favor do temor (Paulo, o autor aos Hebreus) e outros contra (João). Porque apesar de Romanos 11:20 recomendar o temor, Romanos 8:15 diz: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos".
E apesar de Hebreus 3:12 recomendar temor de um coração incrédulo (que é o mesmo que dizer o temor do Deus que retribui incredulidade com castigo), Hebreus 4:16 diz: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno."
Portanto, o problema não é uma contradição entre os autores dos livros do Novo Testamento, mas o problema é como pode o mesmo autor dizer "Tema!" e ao mesmo tempo, "Não temas! Tenha confiança." A solução será encontrada, penso eu, na sugestão de que um temor sensato de Deus nos motivará a confiar em sua misericórdia demostrada em Cristo e essa "confiança com tremor" irá gradativamente remover o medo que nos levou a isso, conforme vemos mais claramente o que o Senhor tem feito por nós.

Como Somente o Perfeito Amor Lança Fora o Temor

Eu estava lendo a Antologia de C. S. Lewis por George MacDonald e encontrei alguns comentários úteis. Ele observa que absolutamente nada menos que o amor perfeito (tanto de Deus pelo homem quanto do homem por Deus) deveria lançar fora o temor. Nós somos propensos a querer livrar-nos do temor a qualquer custo, de qualquer jeito. João diz que há e deveria haver apenas um jeito—amor perfeito por Deus lança fora o temor.
Nós pensamos que seremos cristãos melhores quando pararmos de temer— o que pode ser completamente falso. Nós seremos cristãos melhores quando amarmos mais a Deus pelo Seu perfeito amor. O aperfeiçoamento do amor necessariamente afasta o temor, mas o afastamento do temor não necessariamente significa que o amor está sendo aperfeiçoado. Alguém pode desejar livrar-se do temor da mesma forma que quer livrar-se de uma consciência pesada, e ele pode usar a mesma forma enganosa para acabar com seu desconforto (por exemplo, álcool, drogas, ou mais comumente, a eliminação de todos os mandamentos na Bíblia de temer a Deus e amá-lO com todo o seu coração. Veja Deuteronômio 10:12).
MacDonald escreve (página 67):
Persuada os homens de que o temor é uma coisa vil, que é um insulto a Deus, que Ele não irá tolerar isso—enquanto eles ainda estão apaixonados pela própria vontade, escravos de todo movimento de impulso impetuoso — e qual será a consequência? Eles irão insultar a Deus como um ídolo descartado, uma superstição, algo para se jogar fora e cuspir em cima. Depois disso, quanto eles aprenderão sobre Ele?

Amor Superior ao Temor

O temor é um vínculo imperfeito com Deus, mas é um vínculo que deveria ser substituído somente por um vínculo infinitamente mais profundo—o vínculo do amor (página 67). Nada mais deveria lançar fora o temor.
Deveria, então, o medo ter um papel até um certo ponto e depois disso nunca mais na vida do Cristão? O ponto após o qual o medo não terá mais lugar na vida no Cristão é o ponto no qual o seu amor é perfeito. Mas nenhum de nós é perfeito em amor ainda, todos nós temos momentos nos quais nosso prazer em Deus esmorece e as "coisas que se vêem" tornam-se enganosamente atraentes.
Nesses momentos, nós necessitamos de um alerta de Paulo (Romanos 11:20), ou de Hebreus (3:12), ou de Jesus (Lucas 12:5). Nesses momentos nós não podemos estar completamente livres do temor, porque nós não estamos completamente controlados pelo amor por Deus; isto é, nós não estamos vivendo completamente pela fé. Mas o temor que como Cristãos devemos sentir é por si só uma obra da graça. É um temor que nos leva de volta ao amor por Deus e à confiança em sua misericórdia e, desse modo, destrói a si mesmo. O temor é o servo apropriado do amor para os santos imperfeitos.
O segundo verso do hino "Preciosa Graça" não é meramente uma experiência do tipo de-uma-vez-por-todas:
A graça, então, meu coração
do medo me libertou.
Oh, quão preciosa salvação
a graça me outorgou!

Jonathan Edwards Sobre Amor e Temor

No dia 7 de Janeiro de 1974, eu encontrei a seguinte citação de Jonathan Edwards em seuTratado Sobre Afeições Religiosas (Londres, 1796), p. 102ff. Penso que ele expressa exatamente o que estou tentando dizer:
Deus, então, planejou e constituiu coisas em Seus desígnios para Seus próprios filhos de forma que quando o amor deles decair e o exercício do amor falhar ou se tornar fraco, o temor erga-se; porque então eles precisam dele para impedí-los de pecar e para animá-los a cuidar do bem de suas almas, e assim salvá-los para a vigilância e diligência na religião; mas Deus também ordenou que quando o amor crescer e estiver sendo exercitado vigorosamente, o temor deverá desaparecer e ser afastado porque já não precisarão mais dele, tendo um princípio superior e mais excelente para afastá-los do pecado e encorajá-los em sua responsabilidade.
Não há princípios que influenciem a natureza humana ou que conscientizem os homens tanto quanto um destes dois, temor ou amor. E, portanto, se um desses não prevalecer ao passo que o outro decai, o povo de Deus quando caído na morte e nas armações carnais, quando o amor estiver adormecido, estaria lamentavelmente exposto, de fato. E, portanto, Deus sabiamente ordenou que esses dois princípios opostos de amor e temor devem crescer e diminuir como dois lados opostos em uma balança; quando um levanta o outro abaixa...
O temor é lançado fora pelo Espírito de Deus somente quando o amor prevalece: e é mantido por Seu Espírito somente quando o amor adormece...
© Desiring God | Satisfação em Deus
Permissões: Você tem permissão e nosso incentivo para reproduzir e distribuir este material em qualquer formato contanto que não altere de maneira alguma as palavras e não cobre valor algum além do custo de reprodução. Para postar na internet, preferimos um link para este documento no nosso site. Quaisquer exceções às regras ditas devem ser aprovadas pelo Desiring God.

Nenhum comentário: