quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lendo a Genealogia de Jesus Cristo Segundo Mateus

Estudo Bíblico em Mateus Capítulo 1: 1-17.
* Por: Cláudio Luis de Souza
Lendo A Genealogia de Jesus Cristo Segundo Mateus
A genealogia de Jesus relatada em Mateus tem como um dos objetivos, primeiramente e principalmente, mostrar que Jesus era o Messias descendente direto da casa real de Davi e da posteridade do patriarca Abraão. Tal objetivo tem como relevância enfatizar a messianidade de Jesus como àquele que vem cumprir a promessa feita em Abraão.
Mateus, portanto, apresenta mais do que uma linhagem genealógica, e sim, este evangelho vem apontar Jesus, não como uma figura isolada, e tão pouco, um inovador propagando suas idéias, mas sim, alguém que só pode ser adequadamente avaliado em termos de algo que já aconteceu. [1]
O que se deve entender neste caso, é que Mateus estava preocupado particularmente em apresentar Jesus como o cumprimento da promessa que Deus fez aos Judeus, como um povo do pacto de Deus, conforme Gn. 12:1-3 “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Segundo nota da Bíblia de Genebra, as alianças são acordos solenes, negociados ou impostos unilateralmente, que ligam as partes uma as outras em relações permanentes, definidos, com promessas especificas, com reivindicações e obrigações de ambos os lados, como por exemplo, a aliança do casamento. [2]
É diante desta aliança que Mateus tem como querigma da mensagem de seu evangelho, e ao traçar uma genealogia  e abrâmica, ele deseja, portanto mostrar aos judeus[3], que Cristo, vem de uma linhagem tanto da promessa, como da realeza. Por isso, o evangelho de Mateus é o mais que enfatiza o Reino de Deus. São empregadas 51 vezes a palavra basiléia que se pode ser traduzida por Reino ou Reinado[4], conforme podemos constatar em: 3:1-2; 4:17; 5:3 e 10; 6:9-10 É diante desta questão, que se pode explicar a genealogia de Jesus, onde Mateus traça do nascimento de Cristo até Abraão, enquanto Lucas transcende até Adão. Outro fator que deve ser ressaltado, é quanto, a visão que ambos fazem do Cristo.
Enquanto Lucas apresenta uma leitura mais ampla e apresenta Cristo como o SENHOR[5] de tudo. Oscar Cullman, teólogo renomado descreve esta questão da seguinte forma:
“Lucas olha a vida de Jesus retrospectivamente, não apenas como historiador que deseja refazer os eventos passados em sua ordem cronológica, mas como crente que sabe que a ressurreição de Cristo dá a tudo que procede ao seu sentido verdadeiro. É a luz da Páscoa que ele relê a vida de Jesus; por isso, designa Jesus pelo título que lhe deu a comunidade cristã. O SENHOR (Kyrios)[6].
Mateus por sua vez apresenta Jesus de uma outra ótica, ou seja, Cristo é apresentado como o anunciador do Reino que vem ao encontro do homem, conforme capítulo 4:17 “O Reino de Justiça baseado na Misericórdia e no amor de Cristo”.
Mateus, portanto, ressalta que Cristo é o messias que vem cumprir a profecia conforme Isaías 11:1 “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo”. Pode-se entender neste caso, que a linhagem representando a monarquia seria colocada abaixo até restar apenas um tronco, todavia, daquele tronco aparentemente morto e arruinado surgiria um novo “rebento” que cresceria para se tornar uma árvore sólida.
Outro fato interessante encontrado na genealogia de Cristo segundo o evangelho de Mateus é quanto a citação de quatro mulheres. O fato é que os judeus em sua maioria não incluía mulheres em suas genealogias. No entanto, Mateus faz menção de quatro mulheres, a saber: Tamar(1:3); Raabe(1:5); Rute(1:5); e Bate-Seba (mulher de Urias, 1:6). Carson, relata o fato da seguinte maneira:

É de se estranhar à citação dessas mulheres, uma vez que, os reis e principes exibem com orgulho sua nobre linhagem. No entanto, Mateus contraria esta questão ao citar: Tamar, uma mulher que seduziu seu sogro Judá para dentro de um relacionamento incestuoso (Gn.38); Raabe, salvou os espiões e juntou-se aos israelitas, mas ela era uma prostituta pagã (Js. 2:5); Rute era uma moabita, não apenas uma gentia, e sim, um membro de uma raça freqüentemente em oposição implacável aos israelitas; e Bate-Seba que, embora sendo judia,pode muito bem ter sido considerada por alguns como uma hitita, pois ela casou-se com Urias, o heteu.Não obstante, ela entrou na linhagem messiânica devido um caso de adultério com Davi. (2Sm 11)[7].

A citação acima pode ser explicada seguindo um raciocínio soteriológico, ou seja, Mateus chama atenção para o fato que a salvação não é uma exclusividade de Israel. E neste caso, Jesus vem salvar seu povo, os escolhidos judeus e gentios também podem fazer parte desta linhagem que inclui prostitua e estrangeiros.
Conclusão
A leitura da genealogia sobre a perspectiva de Mateus remonta a messianidade de Jesus Cristo que vem de uma linhagem fundamentada nas promessas de Deus, assim como, enfocar a própria profecia bem como da linhagem, sendo Jesus, o verdadeiramente filho da linhagem Davídica.

Bibliografia
CARSON, D. A. Deus Conosco – Tópicos do Evangelho de Mateus. São Paulo: PES, 2000. 203p.
TASKER, R.V.G. MATEUS – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1980. 1º ed. 229p.
CULLMANN, Oscar. A FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO. 2001: São Leopoldo: Sinodal. 7ª ed.rev. 95p.
______ Bíblia de Estudo de Genebra .


* O autor é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente pastoreia a IPB de Isadora 2. É formado em Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Rio de Janeiro.
[1] Introdução e Comentário de Mateus – Série Cultura Bíblica; Vida Nova. Pg. 24
[2] Nota da Bíblia de Genebra, p. 28
[3] Os judeus neste caso são judeus convertidos ao cristianismo.
[4] A Formação do Novo Testamento, Oscar Cullmann. Pg. 22
[5] SENHOR neste caso é  transliterado do termo Kyrios em grego.
[6] Cullmann, pg. 29
[7] D.A. Carson, pg. 16

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